2 de setembro de 2013

ARTIGO: TAPA NA CARA

 

Essa expressão é a que define a incrível e inacreditável votação ocorrida na Câmara dos Deputados. Surgiu a figura do preso-parlamentar, Sua Excelência, o prisioneiro, ou foi inaugurada a ala legislativa da penitenciária da Papuda. 

Os deputados estão brincando com a opinião pública. Não é necessário consultar bola de cristal para perceber as repercussões do tresloucado gesto. As redes sociais indicam que as pessoas querem fechar ou destruir o Congresso.

 Clique no link abaixo e confira o artigo na íntegra.


 Por MAYKON OLIVEIRA



Não há justificativa para a decisão. Doze deputados do Partido dos Trabalhadores não apareceram para votar. Foi a maior ausência coletiva. As outras legendas também contribuíram para o resultado. Agora, correm atrás do prejuízo. O PSDB acionou o Supremo Tribunal Federal para anular a sessão. Mas o desgaste já está feito. Donadon chegou e saiu do Congresso a bordo de um camburão. Mostrou a marca das algemas para seus colegas. Defendeu-se na tribuna e acusou o Ministério Público. Depois do resultado se ajoelhou a agradeceu a seu Deus.

Tudo isso ocorrido depois das manifestações de junho e julho neste país transforma a cena em algo completamente fora do lugar. Os deputados vão sofrer para andar nas ruas agora e vão sofrer ainda mais na eleição do próximo ano. A desmoralização do Congresso não interessa a ninguém. Chama a ditadura, o governo forte e sugere o fim da política. Suas Excelências, com seu corporativo descarado, estão dando tiro no próprio pé.

Desafiar a opinião pública não é atitude inteligente. Natan Donadon foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal a cumprir pena de prisão por mais de treze anos como conseqüência de formação de quadrilha e desvio de dinheiro público. O processo dele transitou em julgado. Ou seja, passou por todas as instâncias e ultrapassou recursos e embargos possíveis. Não há justificativa para livrá-lo, ou tentar livrá-lo da punição. Só há uma possibilidade: corporativismo rasteiro. 

King -No início dos anos sessenta participei de uma excursão de meninos aos Estados Unidos. Era um grupo de amigos que tinha o hábito de ir à praia, no Leme, de bonde. E os trocadores não permitiam que nos nós sentássemos nos bancos de madeira, molhados e sujos de areia. Então, nossa curta viagem era sempre feita no final do bonde, onde todos ficavam de pé, numa espécie de semicírculo. Era um hábito ingênuo e característico daquele de Rio de Janeiro distante da periculosidade atual.

Pegamos o navio, o Loide Venezuela, no porto de Rio e viajamos até Recife. Ficamos três dias parados lá, enquanto o navio recebia a carga. Depois, seguimos para Porto Rico, com outra longa escala. Finalmente, subimos o rio Mississipi e desembarcamos na deliciosa cidade de New Orleans. Todos éramos garotos, sem nenhuma experiência internacional. Então, a primeira ação que tomamos depois de chegar à terra firme foi pegar o bonde que andava do começo ao fim de CanalStreet.

Foi o primeiro choque. Um senhor negro veio até nós e disse que não poderíamos ficar ali. Ele estava irritado. E dizia “é a lei”. Estávamos no fundo do bonde, onde costumávamos andar no Rio. Porém, naquele tempo, o transporte público nos Estados Unidos, sobretudo no sul do país, era dividido entre negros e brancos. Os negros andavam atrás. Os brancos, da metade para frente. Foi o primeiro choque. O racismo explícito e legal que existia naquele país. Depois vieram outras surpresas negativas. Bar de branco, bar de preto, banheiro para uma cor e outro banheiro para outra cor. E assim as coisas se arrumavam.

New Orleans é uma espécie de Bahia nos Estados Unidos. É a terra do dixieland.Jazz da melhor qualidade. A população negra é grande, talvez majoritária, com a curiosidade de carregar sobrenomes franceses. A Louisiana foi território francês, vendido por Napoleão ao governo dos Estados Unidos, o que permitiu o início da corrida para o oeste. Mas esta é outra história. Importa notar que é chique ter sobrenome francês naquela cidade. Pegamos o ônibus e fomos até Washington. Em todas as cidades do sul encontramos a mesma situação. Discriminação racional em toda a linha, legal e institucional. Só da Georgia para o norte a situação melhorava.

Fundo do poço -Nós fomos tropeçando com as questões raciais e também religiosas. Em alguns hotéis era quase obrigatório comparecer ao serviço religioso. E em Nova Iorque existiam as shelter áreas, que eram abrigos preparados para receber a população civil em caso de ataque nuclear. Digo tudo isso porque os norte-americanos comemoram semana passada o famoso discurso de Martin Luther King – “eu tenho um sonho” – realizado diante de milhares de pessoas na escadaria do Lincoln Memorial.

O presidente Barack Obama, o primeiro negro a alcançar a Casa Branca, falou ao povo no mesmo lugar que Dr. King proferiu seu espetacular discurso para mais de 250 mil pessoas. No Lincoln Memorial.Em cinco décadas o mundo mudou na perspectiva das relações raciais nos Estados Unidos. Hoje existem famílias negras de classe média. E um bom número de milionários.A revista Time colocou Martin Luther King na condição de fundador do país (founding father).

Exemplo bem diferente da realidade nacional do ponto de vista da política. Aqui desapareceram as ideologias, não há metas, restaram interesses pessoais ou de corporações. O governo é aparelhado, desgovernado e improdutivo. É levado a importar médicos porque não forma o necessário em suas faculdades. Alguma coisa está muito errada no Brasil. As manifestações estão chegando. O gigante vai despertar de novo. Com razão e força.

André Gustavo é jornalista (Via ABC Polítiko)

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