25 de junho de 2013

ARTIGO: A MULTIDÃO

 

O jornalista André Gustavo publicou um Artigo denominado de "A multidão". No texto, ele destaca as muitas facetas dos protestos e mobilizações desencadeados em centenas de cidades brasileiras nos últimos dias.

Para o estudioso, o povo deu o seu recado. O prestígio dos governantes está baixo e o dos partidos deixou de existir. Eles não representam mais ninguém.

Clique no link abaixo e confira na íntegra.


Por MAYKON OLIVEIRA

Artigo - A Multidão


Grandes manifestações, de nível fluvial amazônico, geram conseqüências profundas. Além das imaginadas por seus organizadores. A história registra situações inéditas. Ninguém controla a multidão. Sempre há aproveitadores, curtidores, inocentes úteis e vândalos. O início do protesto é facilitado pelas redes sociais. O final não costuma ser o planejado. Uns e outros atacam, assaltam, ateiam fogo no quarteirão, nos ônibus e tudo que estiver pela frente.

Em 1968, sem aviso prévio, estourou uma revolta popular, tipo guerrilha urbana, em Paris. No início, o governo assistiu o movimento que rapidamente evoluiu para conflitos pesados nas ruas, com incêndios, depredações e, adiante, recebeu o apoio das poderosas centrais sindicais. O país parou. Greve em cima de greve. De Gaulle, o grande herói da guerra, criador da 5ª República, tentou conversar, mas não deu. A Polícia entrou em campo e baixou o cassetete. Finalmente o grande líder falou aos franceses e tudo voltou ao normal.

Foram convocadas eleições gerais, De Gaulle venceu. Um ano depois ele submeteu ao povo um plebiscito para modificar a legislação partidária. Perdeu. Deixou o governo e morreu pouco depois de causas naturais.A revolução francesa espalhou-se pela Europa e também atravessou o Atlântico. Desembarcou no Rio e encontrou em São Paulo estudantes dispostos a provocar o governo dos militares. Nas duas cidades ocorreram passeatas enormes, mais de cem mil pessoas nas avenidas. Os cariocas desfilavam pelo centro da cidade e o pessoal nos escritórios instalados nos prédios da avenida jogavam tudo o que tinhas nas mãos sobre os soldados.

Consequências - A decretação do Ato Institucional nº 5 institucionalizou a ditadura, abriu as portas para a tortura e amordaçou os tribunais. Suspendeu o habeas corpus e deixou os órgãos de repressão livres para agir. A ditadura só terminou em 1985, quando o general João Figueiredo passou a faixa presidencial para José Sarney. Na Europa, os cidadãos da Tchecoslováquia imaginaram que poderiam construir o socialismo mais humano. Lutaram por abertura democrática no duro regime soviético. Foram reprimidos com extrema violência. O regime se fechou ainda mais.

No Brasil, em 1984, ocorreram diversas manifestações em favor da realização de eleições diretas para presidente da República. O povo foi para as ruas. E perdeu. A emenda foi derrotada no Congresso.Mas a mobilização continuou, os comícios se sucederam e resultaram na eleição de Tancredo Neves – o favorito era Paulo Maluf – e a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. Tancredo morreu no meio da caminhada. No entanto, as conseqüências se concretizaram. Ulysses Guimarães levou seu trabalho até o final. Exibiu o exemplar da Constituinte cidadã. Foi o marco da redemocratização.

O povo retornou as ruas por causa de Collor. Os cara-pintada não concederam ao então presidente o apoio pretendido. As passeatas pressionaram os congressistas de maneira tão forte que eles votaram a favor do impeachment de um presidente democraticamente eleito. Itamar Franco, o vice, assumiu o governo sem qualquer tipo de crise. Governou como quis. Ele, aliás, produziu junto com a equipe de FHC, o plano real. 

O Brasil é movido a multidões. E quando o povo vai para as ruas as conseqüências são imprevisíveis. O efeito colateral existe.  

O Brasil vive momento excepcional neste momento. A Copa das Confederações colocou o país nas manchetes do mundo inteiro. De repente, o brasileiro descobriu que tinha capacidade para construir estádios de futebol semelhantes aos melhores do mundo. É o chamado padrão FIFA. Houve dinheiro para construir as arenas, mas não há para melhorar o sistema de saúde, o salários dos professores, nem melhorar a proteção do cidadão exposto a marginais e assaltantes no cotidiano das grandes cidades. Um choque de realidade para o cidadão. O país pode, é capaz e não realiza mais porque a corrupção não deixa.

Vaia -O primeiro sinal, que surpreendeu todo o governo, foi a vaia no estádio Mané Garrincha em Brasília. Foi eloqüente. E significativa. Depois em Fortaleza, o povo cantou o hino nacional à capela. Reafirmou sua condição de principal protagonista no cenário atual. Semanas após o encerramento do torneio de futebol, o Papa Francisco virá ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude. Será a primeira viagem de Sua Santidade ao exterior.Milhões de pessoas vão participar de vigília e da missa campal. O argentino vai desfilar por Copacabana. O Brasil continuará na vitrine.

O brasileiro gostou de aparecer. Ano que vem haverá a Copa do Mundo e eleição presidencial. Ano difícil. Cheio de perigos e armadilhas. O torneio de futebol é o maior evento do planeta. A audiência dos jogos somada passa de dez bilhões de pessoas. A escolha do novo presidente da República envolve campanha eleitoral, discursos, comícios, eletrônicos e ao vivo, utilização da internet e naturalmente muito debate. Serão cerca de 130 milhões de eleitores. Afinal de contas, eles vão decidir o futuro do país que é a sexta ou sétima maior economia do planeta.

As passeatas vão influir na política e mexer na economia. A redução dos preços das passagens vai provocar ligeira queda nos índices inflacionários, que constituem importante combustível de tanta manifestação. Os candidatos deverão tentar capitalizar tanta insatisfação. Respostas precisam ser urgentemente oferecidas. O estrago foi muito grande. O prestígio dos governantes está baixo e o dos partidos deixou de existir. Eles não representam mais ninguém.

André Gustavo é jornalista - Via ABC Polítiko

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