21 de julho de 2013

AGOSTO: JORNALISTA RENOMADO FAZ ANÁLISE DO ATUAL MOMENTO VIVENCIADO PELOS BRASILEIROS

 

Estudiosos, especialistas e diletantes tentam explicar a súbita explosão brasileira. Tudo começou quando as pessoas descobriram que o país tinha sido capaz de construir estádios de futebol semelhantes ao que há de melhor no mundo. 

Não existe no Brasil padrão Fifa para escolas, hospitais e transportes públicos. O governo está trabalhando em regime de emergência. Corre atrás do enorme prejuízo. Enquanto isso, reputações são desmontadas. 

Clique no link abaixo e confira o Artigo "Agosto".


 Por MAYKON OLIVEIRA


 Artigo: Agosto

Estudiosos, especialistas e diletantes tentam explicar a súbita explosão brasileira. Tudo começou quando as pessoas descobriram que o país tinha sido capaz de construir estádios de futebol semelhantes ao que há de melhor no mundo. É o padrão Fifa. Aliás, Joseph Blatter, o todo poderoso da organização do esporte no mundo, disse que talvez seja levado a concluir que a escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014 tenha sido um erro. Perdeu boa oportunidade de ficar calado. Os jornais alemães dão parabéns aos brasileiros por terem feito o que eles não fizeram em 2006, nem os sul-africanos em 2010: enfrentar os poderosos cartolas do esporte.

Não existe no Brasil padrão Fifa para escolas, hospitais e transportes públicos. O governo está trabalhando em regime de emergência. Corre atrás do enorme prejuízo. Enquanto isso, reputações são desmontadas. Depois que se descobriu que o governador Sérgio Cabral levava até o cachorrinho de estimação nas suas viagens de helicóptero para a casa na praia, no sul do estado do Rio, o tempo fechou. Ele, que fazia um governo bem avaliado, de repente transformou-se em prisioneiro em sua própria residência. As manifestações pacíficas, no início, descambaram para um violento quebra-quebra no Leblon, que tem o metro quadrado mais caro do Brasil. Era um mundo à parte. Não é mais.

Internet - A essa altura dos acontecimentos não faz muito sentido discutir a origem do movimento que transita com desembaraço pela internet. Esse sistema diabolicamente eficiente criado no governo Reagan para defender o país de eventual ataque de mísseis vindo do mundo comunista. O ataque nunca ocorreu, mas os cientistas que trabalhavam no projeto chamado de “Guerra nas Estrelas” passaram a conversar por intermédio do computador. Não precisavam mais fazer longas viagens, nem participar de reuniões exaustivas e pouco produtivas. A invenção foi tomada pelo interesse comercial. Os inventores da ferramenta conservaram seu controle e hoje espionam todo mundo. Mas isso também não explica os conflitos de rua no Brasil.

As conseqüências, como sempre, vêm depois. Pesquisa nacional realizada pelo Ibope e publicada pelo jornal Estado de S. Paulo revela cenário bem mais competitivo para outubro de 2014. A presidente Dilma Rousseff aparece com 30% das intenções de voto estimuladas, contra 22% de Marina Silva (sem partido), 13% de Aécio Neves (PSDB) e 5% de Eduardo Campos (PSB). O ex-presidente Lula teria 41% contra os mesmos adversários, que ficariam, respectivamente, com 18%, 12% e 3%. Em outro cenário, com cinco candidatos a presidente, Dilma fica com 29% das intenções de voto, contra 21% de Marina e 12% de Aécio. Os três perdem um ponto porcentual com a entrada no páreo do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. O magistrado chega a 6%, contra 5% de Eduardo Campos.

Quando os organizadores da pesquisa trocam Dilma por Lula, o ex-presidente cresce dez pontos e chega a 39%. Marina cai para 17%, Aécio permanece com 12%, Barbosa fica com 6%, e Campos cai a 3%. A verdade é que a popularidade da presidente Dilma despencou de 58% para 30%. A notícia é muito ruim para ela, mas anima todos os possíveis adversários. Isso significa que o processo sucessório está aberto. Não existem mais vencedores por antecipação, nem favoritos. Será difícil para ela recuperar os antigos números porque o tempo é curto. Dissidentes, oposicionistas e oportunistas aguardam o melhor momento para refazer opções políticas. Todos querem apostar no cavalo vencedor e estar presente na festa da posse. 

Voto nulo - O presidente Lula, que tenta ficar distante das manifestações públicas, reafirma que não será candidato à presidência. Mas dentro do PT é forte a corrente de militantes que prega a volta Lula. Aécio Neves se mexe com discrição, mas é efetivo. Está montando sua candidatura dentro do PSDB. Ainda terá que enfrentar a dificuldade com José Serra. E os movimentos ambíguos de Eduardo Campos, governador de Pernambuco, que ora está mais perto da candidatura, ora caminha no sentido de uma composição com o ex-presidente Lula. A verdade é que a desorientação contaminou a todos. Os mágicos do marketing, dentro e fora do Palácio do Planalto, não conseguiram inverter a maré montante do desabafo popular. As pesquisas indicam também que dobraram, de 9 para 18%, a intenções de voto nulo ou branco.

A semana, contudo, é religiosa. A presença do Papa Francisco é uma incógnita. Ele é um jesuíta, simpático, falante, comunicativo e sempre ao lado das causas populares. Andava de ônibus em Buenos Aires e insistiu em não utilizar aeroporto militar na sua partida de Roma. Quer ser um igual. Não será surpresa se ele, diante de milhares de peregrinos – que terão que caminhar 13 quilômetros até o local da vigília, em Guaratiba, no Rio – der recados muitos claros a respeito da revolta brasileira. Ele sabe medir as palavras e sua primeira viagem internacional vai ocorrer em momento especialmente dramático. Tudo é novidade neste momento no Brasil. Ninguém sabe o que vai acontecer na próxima semana.

O governo federal está paralisado. O Congresso entrou em recesso mesmo sem ter votado a Lei de Diretrizes Orçamentárias, o que é absolutamente inusual, para dizer pouco. Os debates sobre reforma política, plebiscito, referendo vão atravessar o semestre. Mas o problema da hora é a segurança do Papa Francisco. Se tudo correr bem, o país estará preparado para enfrentar um agosto muito complicado. Se não, agosto na política brasileira poderá começar mais cedo.


André Gustavo é jornalista - Via ABC Politiko

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