Ao preço que um brasiliense paga por 40 croissants ou 12 quilos de
pão francês na melhor padaria da capital federal, eleita por guias
locais, o Itamaraty serve apenas um diplomata ou chefe de Estado num
café da manhã. São R$ 159 para alimentar uma pessoa com biscoitos,
bolos, sucos e frutas. O valor consta de relatório do Tribunal de Contas
da União (TCU), que aponta gastos exorbitantes com refeições em
coquetéis e eventos.
O tribunal fiscalizou contratos do cerimonial
do Itamaraty, que repassou, desde 2008, R$ 6,7 milhões à Di Gagliardi,
bufê que há cerca de 40 anos serve a diplomacia. De acordo com a corte, o
contrato mais recente com a empresa, firmado em 2009 e prorrogado
várias vezes, tem indícios de jogo de planilha e poderia custar bem
menos.
Os auditores compararam os preços com os praticados pelo
Senado, casa tradicionalmente pouco parcimoniosa, que contrata serviços
semelhantes. Dos 42 itens analisados, todos foram mais caros no Itamaraty, que pagou até 430% mais.
Clique no link abaixo e veja mais na matéria do Estadão.
Por MAYKON OLIVEIRA
FONTE: ESTADÃO
Enquanto
o café de um diplomata sai a R$ 159 em evento para até 14 pessoas, no
Legislativo custa R$ 30. Por um almoço ou jantar à francesa, o Itamaraty
paga R$ 237 por pessoa, ante R$ 120 no Legislativo. A conta não inclui
bebidas alcoólicas. É dinheiro suficiente para bancar, ao preço médio de
R$ 127, couvert, entrada, prato principal e sobremesa no Gero, do Grupo
Fasano, um dos restaurantes mais prestigiados de Brasília.
Os
eventos da diplomacia costumam ser requintados e variados. Num jantar,
por exemplo, o cerimonial pode escolher como prato principal um entre 22
opções, a exemplo de medalhões de lagosta ao molho de manteiga queimada
ou perdizes recheadas.
Para o TCU, mesmo tanta sofisticação não
explica as cifras. "A despeito de reconhecer a importância da qualidade,
entendo que esse argumento não é válido ao ponto de justificar as
diferenças de preço", avaliou o relator do processo, ministro Benjamin
Zymler. Em decisão aprovada quarta-feira, a corte de contas determinou
mudanças, entre elas a comparação com os contratos de outros órgãos.
Segundo
a auditoria, a licitação aberta pelo Itamaraty restringiu a
participação de empresas. Cotação superestimada elevou o preço de
referência do pregão (R$ 2,6 milhões). A Di Gagliardi venceu com
proposta de R$ 2,1 milhões. Mas os valores das refeições foram mais
altos do que os apresentados pela empresa em consulta prévia do
Itamaraty antes do certame.
Em nota, o Itamaraty alegou que os
cardápios requerem ingredientes "da mais alta qualidade" e que "obedeçam
às peculiaridades culturais das delegações, justamente por serem
organizados para altas autoridades estrangeiras". Afirma ainda que
questão igualmente importante é a exigência de requisitos como bufê com
estrutura de grande porte, não raro para servir mais de 300 pessoas, e
treinamento para profissionais como chefe de cozinha e garçons. A Di
Gagliardi informou ter participado de pregão, ganhando com menor preço e
na legalidade.
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