Essa expressão é a que define a incrível e inacreditável votação
ocorrida na Câmara dos Deputados. Surgiu a figura do preso-parlamentar,
Sua Excelência, o prisioneiro, ou foi inaugurada a ala legislativa da
penitenciária da Papuda.
Os deputados estão brincando com a opinião
pública. Não é necessário consultar bola de cristal para perceber as
repercussões do tresloucado gesto. As redes sociais indicam que as
pessoas querem fechar ou destruir o Congresso.
Clique no link abaixo e confira o artigo na íntegra.
Por MAYKON OLIVEIRA
Não há justificativa para a decisão. Doze deputados do Partido dos
Trabalhadores não apareceram para votar. Foi a maior ausência coletiva.
As outras legendas também contribuíram para o resultado. Agora, correm
atrás do prejuízo. O PSDB acionou o Supremo Tribunal Federal para anular
a sessão. Mas o desgaste já está feito. Donadon chegou e saiu do
Congresso a bordo de um camburão. Mostrou a marca das algemas para seus
colegas. Defendeu-se na tribuna e acusou o Ministério Público. Depois do
resultado se ajoelhou a agradeceu a seu Deus.
Tudo isso ocorrido depois das manifestações de junho e julho neste
país transforma a cena em algo completamente fora do lugar. Os deputados
vão sofrer para andar nas ruas agora e vão sofrer ainda mais na eleição
do próximo ano. A desmoralização do Congresso não interessa a ninguém.
Chama a ditadura, o governo forte e sugere o fim da política. Suas
Excelências, com seu corporativo descarado, estão dando tiro no próprio
pé.
Desafiar a opinião pública não é atitude inteligente. Natan Donadon
foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal a cumprir pena de prisão por
mais de treze anos como conseqüência de formação de quadrilha e desvio
de dinheiro público. O processo dele transitou em julgado. Ou seja,
passou por todas as instâncias e ultrapassou recursos e embargos
possíveis. Não há justificativa para livrá-lo, ou tentar livrá-lo da
punição. Só há uma possibilidade: corporativismo rasteiro.
King -No início dos anos sessenta participei de uma excursão de
meninos aos Estados Unidos. Era um grupo de amigos que tinha o hábito de
ir à praia, no Leme, de bonde. E os trocadores não permitiam que nos
nós sentássemos nos bancos de madeira, molhados e sujos de areia. Então,
nossa curta viagem era sempre feita no final do bonde, onde todos
ficavam de pé, numa espécie de semicírculo. Era um hábito ingênuo e
característico daquele de Rio de Janeiro distante da periculosidade
atual.
Pegamos o navio, o Loide Venezuela, no porto de Rio e viajamos até
Recife. Ficamos três dias parados lá, enquanto o navio recebia a carga.
Depois, seguimos para Porto Rico, com outra longa escala. Finalmente,
subimos o rio Mississipi e desembarcamos na deliciosa cidade de New
Orleans. Todos éramos garotos, sem nenhuma experiência internacional.
Então, a primeira ação que tomamos depois de chegar à terra firme foi
pegar o bonde que andava do começo ao fim de CanalStreet.
Foi o primeiro choque. Um senhor negro veio até nós e disse que não
poderíamos ficar ali. Ele estava irritado. E dizia “é a lei”. Estávamos
no fundo do bonde, onde costumávamos andar no Rio. Porém, naquele tempo,
o transporte público nos Estados Unidos, sobretudo no sul do país, era
dividido entre negros e brancos. Os negros andavam atrás. Os brancos, da
metade para frente. Foi o primeiro choque. O racismo explícito e legal
que existia naquele país. Depois vieram outras surpresas negativas. Bar
de branco, bar de preto, banheiro para uma cor e outro banheiro para
outra cor. E assim as coisas se arrumavam.
New Orleans é uma espécie de Bahia nos Estados Unidos. É a terra do
dixieland.Jazz da melhor qualidade. A população negra é grande, talvez
majoritária, com a curiosidade de carregar sobrenomes franceses. A
Louisiana foi território francês, vendido por Napoleão ao governo dos
Estados Unidos, o que permitiu o início da corrida para o oeste. Mas
esta é outra história. Importa notar que é chique ter sobrenome francês
naquela cidade. Pegamos o ônibus e fomos até Washington. Em todas as
cidades do sul encontramos a mesma situação. Discriminação racional em
toda a linha, legal e institucional. Só da Georgia para o norte a
situação melhorava.
Fundo do poço -Nós fomos tropeçando com as questões raciais e também
religiosas. Em alguns hotéis era quase obrigatório comparecer ao serviço
religioso. E em Nova Iorque existiam as shelter áreas, que eram abrigos
preparados para receber a população civil em caso de ataque nuclear.
Digo tudo isso porque os norte-americanos comemoram semana passada o
famoso discurso de Martin Luther King – “eu tenho um sonho” – realizado
diante de milhares de pessoas na escadaria do Lincoln Memorial.
O presidente Barack Obama, o primeiro negro a alcançar a Casa Branca,
falou ao povo no mesmo lugar que Dr. King proferiu seu espetacular
discurso para mais de 250 mil pessoas. No Lincoln Memorial.Em cinco
décadas o mundo mudou na perspectiva das relações raciais nos Estados
Unidos. Hoje existem famílias negras de classe média. E um bom número de
milionários.A revista Time colocou Martin Luther King na condição de
fundador do país (founding father).
Exemplo bem diferente da realidade nacional do ponto de vista da
política. Aqui desapareceram as ideologias, não há metas, restaram
interesses pessoais ou de corporações. O governo é aparelhado,
desgovernado e improdutivo. É levado a importar médicos porque não forma
o necessário em suas faculdades. Alguma coisa está muito errada no
Brasil. As manifestações estão chegando. O gigante vai despertar de
novo. Com razão e força.
André Gustavo é jornalista (Via ABC Polítiko)
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