(Imagem:grabois.com.br)
O Professor José Romero Cardoso, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), nos enviou uma publicação bastante interessante, que mostra a realidade do sertanejo.
O artigo "Vida de Profeta no Sertão Semiárido do Nordeste Brasileiro" foi produzido pelo poeta e escritor paraibano José Roberto de Sá.
Por MAYKON OLIVEIRA
VIDA DE PROFETA NO SERTÃO
SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO
No momento, meteorologicamente
falando, tudo está turvo, disse o profeta! Contudo, o mesmo profeta diz: nada
impede de em segundos ocorrer as necessárias mudanças de tempo. As condições
presentes, em breve, podem ser transformadas... Folhas secas, vistas caídas ao
solo, na presença da água da chuva, podem se decompor e devolver ao solo os
nutrientes essenciais às plantas e promover toda condição de estresse ao total
desenvolvimento delas.
O profeta sempre acredita que a
tristeza pode ser convertida em alegria. O profeta se distancia do meio do povo
e firma o seu olhar ao céu, inclinando o pescoço, sente o prazer de observar as
formações das nuvens e o tocar do vento em suas pernas, ascendendo todo seu
corpo, em todos os orifícios da epiderme. O profeta observa o sol, a lua, as
estrelas, a aflição dos animais, levando todas essas observações para o seu
cérebro e, daí, meditando e tirando suas conclusões meteorológicas.
O profeta do sertão sempre
amanhece com aquela necessidade de renovar suas esperanças e seus estudos
meteorológicos. O profeta acredita na construção da casa da joana de barro,
acredita no castigo e no milagre também. Segundo o profeta, o castigo não é
nada de rancor de Deus com o homem, mas apenas um corretivo. O profeta é, antes
de tudo, um analista do sistema solo-planta-atmosfera e todo tipo de vida em
sua volta. O profeta analisa e se encanta com os estudiosos científicos da
meteorologia e até classificou as explicações de um estudioso no rádio sobre a
média da temperatura dos oceanos, como a dança da manivela dos oceanos, dizendo
que o pacífico está quente e o atlântico está “frio”, abaixo da média,
implicando na estiagem recente. O profeta fica tão entusiasmado, contente e
encantado com o homem do rádio ao cantar o refrão da música: "A Triste
Partida", sublime composição poética de Patativa do Assaré, interpretada
pelo nosso profeta maior LUIZ GONZAGA.
Hoje um profeta local correu em
trajeto leste-oeste, sentindo a força do vento e a formação de calor no seu
próprio corpo e chegando no leito do assoreado Rio morto trapiá, abriu as pernas e os braços no
sentido norte-sul, sem roupa, com apenas um saco de estopa sobre sua cintura
pélvica, com seus membros inferiores e superiores se distanciando da parte
central do seu corpo. O profeta, psicologicamente retirou o seu pescoço do
corpo e desligou seu cérebro da cabeça e do mundo e se ligou aos raios solares
e às nuvens que se encontravam parcialmente no céu nublado. Em total
desligamento de si e do mundo, o profeta falou e, profeticamente, explicou com
poucas palavras: o homem! Eh, homem! Oh, homem, deixa de ser perverso por
apenas um instante... Oh, homem, o sertão do semiárido do Nordeste brasileiro
depende das tuas ações...
Em total dormência e
inconsciência no leito do rio, o profeta
emitiu sobre o saco de estopa usado como suas vestes as seguintes
interrogações: cadê a vegetação? Cadê todos os abraços químicos das águas
descendo o rio abaixo com seus belos barulhos debaixo das árvores, conduzindo
frutos, flores e restos de vegetais, onde todos mergulhavam no remanso ou
vórtex? Todas essas interrogações o profeta faz um elo com as ações do homem
(ação antrópica). Essas observações encantam a vida do profeta, pois tais
observações para o profeta geram vida e alegria nos corações de cada sertanejo.
Daí o profeta respirou e voltou os abraços e pernas e o pescoço e o cérebro à
normalidade da constituição do seu corpo e disse: apesar da esperança que não
morre em mim, Eh! Eh! Eh! Homem tudo pode mudar, porém, tudo só depende de
Deus.
Seguindo outras profecias, o
profeta, o poeta perguntou: cadê o chocalho? Cadê o berro? Cadê os bichos de
caça? Cadê os cânticos dos pássaros? Ao sentar as nádegas sobre uma rocha de
granito super aquecida em uma curva do morto Rio trapiá, com apenas um saco de estopa sobre sua cintura pélvica,
o mesmo de antes, e, ao observar o movimento das borboletas de diversos
tamanhos e cores o profeta disse: os homens não merecem, mas por outras razões,
as conversões meteorológicas vão acontecer e vai chover no sertão.
José Roberto de Sá. Natural de
São José da Lagoa Tapada (PB). Engenheiro Agrônomo (UFPB). Doutor em Nutrição
de Solos (ESAL). Poeta e Escritor. Autor do livro “A Química do Pensar”,
publicado pela Fundação Vingt-un Rosado/Coleção Mossoroense.
Essa publicação é simplismente a verdade do homem sobre a natureza.
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