Estudiosos, especialistas e diletantes tentam explicar a súbita
explosão brasileira. Tudo começou quando as pessoas descobriram que o
país tinha sido capaz de construir estádios de futebol semelhantes ao
que há de melhor no mundo.
Não existe no Brasil padrão Fifa para escolas, hospitais e
transportes públicos. O governo está trabalhando em regime de
emergência. Corre atrás do enorme prejuízo. Enquanto isso, reputações
são desmontadas.
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Por MAYKON OLIVEIRA
Artigo: Agosto
Estudiosos, especialistas e diletantes tentam explicar a súbita
explosão brasileira. Tudo começou quando as pessoas descobriram que o
país tinha sido capaz de construir estádios de futebol semelhantes ao
que há de melhor no mundo. É o padrão Fifa. Aliás, Joseph Blatter, o
todo poderoso da organização do esporte no mundo, disse que talvez seja
levado a concluir que a escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo de
2014 tenha sido um erro. Perdeu boa oportunidade de ficar calado. Os
jornais alemães dão parabéns aos brasileiros por terem feito o que eles
não fizeram em 2006, nem os sul-africanos em 2010: enfrentar os
poderosos cartolas do esporte.
Não existe no Brasil padrão Fifa para escolas, hospitais e
transportes públicos. O governo está trabalhando em regime de
emergência. Corre atrás do enorme prejuízo. Enquanto isso, reputações
são desmontadas. Depois que se descobriu que o governador Sérgio Cabral
levava até o cachorrinho de estimação nas suas viagens de helicóptero
para a casa na praia, no sul do estado do Rio, o tempo fechou. Ele, que
fazia um governo bem avaliado, de repente transformou-se em prisioneiro
em sua própria residência. As manifestações pacíficas, no início,
descambaram para um violento quebra-quebra no Leblon, que tem o metro
quadrado mais caro do Brasil. Era um mundo à parte. Não é mais.
Internet - A essa altura dos acontecimentos não faz
muito sentido discutir a origem do movimento que transita com
desembaraço pela internet. Esse sistema diabolicamente eficiente criado
no governo Reagan para defender o país de eventual ataque de mísseis
vindo do mundo comunista. O ataque nunca ocorreu, mas os cientistas que
trabalhavam no projeto chamado de “Guerra nas Estrelas” passaram a
conversar por intermédio do computador. Não precisavam mais fazer longas
viagens, nem participar de reuniões exaustivas e pouco produtivas. A
invenção foi tomada pelo interesse comercial. Os inventores da
ferramenta conservaram seu controle e hoje espionam todo mundo. Mas isso
também não explica os conflitos de rua no Brasil.
As conseqüências, como sempre, vêm depois. Pesquisa nacional
realizada pelo Ibope e publicada pelo jornal Estado de S. Paulo revela
cenário bem mais competitivo para outubro de 2014. A presidente Dilma
Rousseff aparece com 30% das intenções de voto estimuladas, contra 22%
de Marina Silva (sem partido), 13% de Aécio Neves (PSDB) e 5% de Eduardo
Campos (PSB). O ex-presidente Lula teria 41% contra os mesmos
adversários, que ficariam, respectivamente, com 18%, 12% e 3%. Em outro
cenário, com cinco candidatos a presidente, Dilma fica com 29% das
intenções de voto, contra 21% de Marina e 12% de Aécio. Os três perdem
um ponto porcentual com a entrada no páreo do presidente do Supremo
Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. O magistrado chega a 6%, contra 5% de
Eduardo Campos.
Quando os organizadores da pesquisa trocam Dilma por Lula, o
ex-presidente cresce dez pontos e chega a 39%. Marina cai para 17%,
Aécio permanece com 12%, Barbosa fica com 6%, e Campos cai a 3%. A
verdade é que a popularidade da presidente Dilma despencou de 58% para
30%. A notícia é muito ruim para ela, mas anima todos os possíveis
adversários. Isso significa que o processo sucessório está aberto. Não
existem mais vencedores por antecipação, nem favoritos. Será difícil
para ela recuperar os antigos números porque o tempo é curto.
Dissidentes, oposicionistas e oportunistas aguardam o melhor momento
para refazer opções políticas. Todos querem apostar no cavalo vencedor e
estar presente na festa da posse.
Voto nulo - O presidente Lula, que tenta ficar
distante das manifestações públicas, reafirma que não será candidato à
presidência. Mas dentro do PT é forte a corrente de militantes que prega
a volta Lula. Aécio Neves se mexe com discrição, mas é efetivo. Está
montando sua candidatura dentro do PSDB. Ainda terá que enfrentar a
dificuldade com José Serra. E os movimentos ambíguos de Eduardo Campos,
governador de Pernambuco, que ora está mais perto da candidatura, ora
caminha no sentido de uma composição com o ex-presidente Lula. A verdade
é que a desorientação contaminou a todos. Os mágicos do marketing,
dentro e fora do Palácio do Planalto, não conseguiram inverter a maré
montante do desabafo popular. As pesquisas indicam também que dobraram,
de 9 para 18%, a intenções de voto nulo ou branco.
A semana, contudo, é religiosa. A presença do Papa Francisco é uma
incógnita. Ele é um jesuíta, simpático, falante, comunicativo e sempre
ao lado das causas populares. Andava de ônibus em Buenos Aires e
insistiu em não utilizar aeroporto militar na sua partida de Roma. Quer
ser um igual. Não será surpresa se ele, diante de milhares de peregrinos
– que terão que caminhar 13 quilômetros até o local da vigília, em
Guaratiba, no Rio – der recados muitos claros a respeito da revolta
brasileira. Ele sabe medir as palavras e sua primeira viagem
internacional vai ocorrer em momento especialmente dramático. Tudo é
novidade neste momento no Brasil. Ninguém sabe o que vai acontecer na
próxima semana.
O governo federal está paralisado. O Congresso entrou em recesso
mesmo sem ter votado a Lei de Diretrizes Orçamentárias, o que é
absolutamente inusual, para dizer pouco. Os debates sobre reforma
política, plebiscito, referendo vão atravessar o semestre. Mas o
problema da hora é a segurança do Papa Francisco. Se tudo correr bem, o
país estará preparado para enfrentar um agosto muito complicado. Se não,
agosto na política brasileira poderá começar mais cedo.
André Gustavo é jornalista - Via ABC Politiko
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